O neologismo que titula estas
linhas tem por objetivo expor um fenômeno que se observa crescente, e que pela
própria palavra se intuí: o absurdo mundo de espetáculos em que vivemos.
Ao observarmos os movimentos à
nossa volta ressoa gritante o número enorme de festas, shows, espetáculos,
sejam públicos ou mesmo em círculos mais restritos, como a família e vizinhos,
amigos...
Soma-se a isto o desejo pelo
novo, uma busca sem fim pela novidade, por aquilo que é inédito, o “diferente”.
Certa vez, aos 12 anos cheguei a
uma conclusão sobre a vida e que de fato, ainda hoje se revela verdadeira: As
pessoas orientam suas ações para duas finalidades: o poder e publicidade;
sentir-se poderoso e conhecido parece estar enraizado no querer humano.
Hoje tudo é tratado como um
espetáculo, tudo deve ser calculado e planejado para se obtenha o máximo de
destaque, que chame a atenção e que as pessoas comentem dizendo de preferência “como a festa de ontem foi maravilhosa” ou
como aquele “show de ontem foi bom”, “como aquela missa (ou culto) foi boa”
sempre no dia seguinte, pois, de fato dois dias depois já se esqueceu, e aí
temos outro evento, e outro amanhã, e mais outro sucessivamente.
Tudo parece diversão. Mas não é.
Nesta esteira, observamos que as
redes sociais facilitam esse diagnóstico: Uma sociedade em que as pessoas
precisam compartilhar com o mundo inteiro o que vão comer no almoço, com quem
estão, com que roupam vão a determinado local, isso para não falar as
bizarrices que nos aparecem, não pode estar bem.
O espetáculo das fotos íntimas,
da “sensualização”, da ostentação do
próprio corpo, como um espetáculo a ser contemplado por quem quiser (as “caveiras bem vestidas” [1]),
dos milhares de “amigos” “seguidores”
É notório o mal que este estado
de coisas, que no fundo é apenas uma tentativa de fuga de si mesmo, tem nos
causado: cria-se uma mentalidade do espetáculo!
Segundo está mentalidade tudo
deve ser orientado para este propósito: chamar para si a atenção dos demais
(obter elogios, comentários e etc.), e coisas das mais bucólicas podem se
tornar instrumento de vaidade, ou frustração.
É a busca do preencher-se, uma
tentativa em vão de suprir o vazio existencial humano, fugir das questões fundamentais
que parecem sem solução (qual o sentido
de nossa vida? por exemplo), é a dificuldade de lidar consigo mesmo que
impele as pessoas a estarem sempre fora de si. O medo da solidão não é o de
estar sozinho, mas é o de estar consigo mesmo.
Com vênia aos descrentes, para o
cristão a raiz de tudo isso está na ilusão da serpente “sereis como deuses”, e infelizmente continuamos a fugir do criador
e ouvir a serpente, nos iludimos com a falsa promessa e ignoramos a miséria que
somos.
Varremos para baixo do tapete a sujeira incômoda
que o estar conosco mesmo nos revela. Criamos espetáculos externos para ocultar
cada vez mais nosso interior, vamos assim nos espetacularizando numa constante
fuga de nós mesmos, somos cada vez mais para fora e cada vez menos de nós
mesmos, cada vez mais nos deparamos com personagens e cada vez menos
personalidades.
Luis Carlos Vieira da Silva